É preciso reconhecer que defensores de direitos humanos têm uma luta que merece ser continuada”, defende Deborah DupratÉ preciso reconhecer que defensores de direitos humanos têm uma luta que merece ser continuada”, defende Deborah Duprat

unnamedA procuradora federal dos Direitos do Cidadão participou de audiência pública na Câmara dos Deputados que discutiu os desafios dos programas de proteção a pessoas ameaçadas

 Ausência de um marco legal, descontinuidade no aporte de recursos, entraves de ordem financeira e administrativa e estrutura incompatível com os desafios na área. Esses foram alguns dos problemas apontados durante a audiência pública realizada na quarta-feira (26/10) que discutiu os programas de proteção a pessoas ameaçadas, mantidos pelo Governo Federal.

O diálogo foi promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e reuniu gestores governamentais e de organizações da sociedade civil que implementam o Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas (Provita), o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) e o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAM).

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal, também participou do debate e colocou como tônica a necessidade de assegurar o aporte de recursos, especialmente em razão do acirramento da criminalização de lutas sociais e das ameaças de desmonte de políticas públicas.

“Os programas de proteção surgiram na década de 1990 e tinham como entendimento central a constatação de que o Estado é o principal violador de direitos humanos. É preciso reconhecer, portanto, que o defensor tem uma luta que merece ser continuada. O agressor quer tirá-lo da luta. A filosofia do programa é a máxima exposição do defensor para visibilizar a luta e mostrar que há uma rede de proteção aos direitos humanos. E isso deve envolver aporte de recursos», destacou Duprat.

A representante do Ministério Público Federal lembrou que, ao longo dos anos, os três programas federais de proteção a pessoas ameaçadas vêm sofrendo graves problemas financeiros e de estrutura incompatíveis com os desafios na área. “Há dois aspectos que precisam ser solucionados com rapidez: a descontinuidade no financiamento e a substituição do modelo de conveniamento, no qual a prestação de contas por vezes é incompatível com a estrutura das entidades que executam a política localmente”, detalhou.

Orçamento – Na audiência, representantes do Fórum Nacional de Entidades Gestoras dos Programas alertaram sobre a diminuição do orçamento previsto para as três iniciativas no próximo ano: “os recursos já vêm sofrendo estagnação ao longo do tempo e a previsão de destinação para o próximo ano é de R$ 27 milhões – valor menor que o executado em 2016, e que já sofreu contingenciamento”, destacou Inácio da Silva, do Fórum Nacional do Provita.

Segundo o Governo Federal, pouco mais de 1.700 pessoas são beneficiadas pelos três programas de proteção (393 defensores no PPDDH, 420 vítimas e testemunhas no Provita e 348 crianças e adolescentes e 579 familiares no PPCAM). O orçamento para 2016 dos programas está em torno de R$ 30 milhões.

De acordo com a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos – executora nacional do Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas –, nos 13 estados em que o programa é executado atualmente, somente três têm capacidade real de acolhimento: “os demais funcionam no limite”.

A carência de recursos preocupa especialmente em razão do aumento da violência no campo – onde está a maior parte das pessoas atendidas pelos programas. “Dados da Comissão Pastoral da Terra apontam que, somente neste ano, 50 mortes já foram registradas no campo. Entre 1995 e 2013 foram 1.668 assassinatos em decorrência da luta pela terra. Apenas 106 desses casos foram levados a julgamento e somente 26 mandantes foram condenados. Nenhum deles foi preso”, destacou Luciana Pivato, do Comitê de Defensores de Direitos Humanos.

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